É intemporal (a Palavra)

É intemporal, e quando for será.
Não há espaço nem memória, nada ficou por dizer, mas há tanto para contar.
São confidências que contamos a nós próprios, como que, uma confissão de alma para espírito, que não se revela a ninguém, como quem revela uma trivialidade a um íntimo ou uma intimidade a um estranho.
Da próxima vez, vou contar- te, um não sei quê, que é já a seguir, e sei que, estás lá para ouvir, e vou estar lá para contar, o que nunca contei nem a mim, e digo-o assim… está dito e não dou o dito por não dito, afirmo, confesso, apodero-me das palavras que pensei nunca proferir, num mito possesso e diabólico de palavras só minhas, que nunca serão escritas, apenas ditas, sem palavras, apenas omissões e erros de letras atropeladas, não vá faltar o pensamento e soltar-se o momento, ou ficar algo por dizer.
E nunca nada ficou por dizer.
E depois tanto há que contar.
E saem as palavras disléxicas de euforia, por serem escutadas e saberem que áquela hora, serão soltas em magia, depois, depois venho embora, e lembro mais uma vírgula que, ficou lá, no fundo da garganta, na dor de uma virgem e não pode ficar presa, na masmorra ou na varanda, de um texto maldito ou meigo, nada pode ficar por dizer… e volto atrás, por mais um minuto para te dizer, sorrindo em tonalidade sã: até amanhã?

AnaDiasFerreira

Sobre AnaDiasFerreira

Estes textos respeitam a ortografia anterior ao novo desAcordo Ortográfico.
Esta entrada foi publicada em Prosa poética, Reflexões com as etiquetas , . ligação permanente.

Uma resposta a É intemporal (a Palavra)

  1. raquelcvicente diz:

    Lindíssimo… *-*

    Gostar

Deixe um comentário